
Enquanto a cidade se modela em prédios, pontes e novos formatos urbanos, a história permanece no sussurro de personagens que nos ajudam a conhecer e compreender um Recife de outrora. Pontilhados é um caminho, feito a pé, por entre calçadas, pontes, marquises, cruzando ruas, conhecendo gente. Enquanto a cidade anseia pelo futuro, nós oferecemos uma visita ao passado, ao que está posto aos olhos invisíveis, como parte
Corpo, alma som.
Lama, caos, tecnologia.
Zambo, Molambo, Mocambo.
Poesia do corpo e rima da alma.
Se um homem roubado nunca se engana, a verdade está no verso e não no inverso. Uma obra que persiste no tempo, na maneira firme de falar sobre um Recife que superou os limites regionais e estéticos e entrou para a história. Uma terra onde os Xangôs e Palafitas dividem espaço na narrativa antropológica de um lugar colonizado por gente de todo o mundo.
Um espetáculo feito a várias mãos, pés e sons. O couro da alfaia, do negro, do senhor de engenho cuja engenharia agora não mói mais cana, mas imprime, edita, se conecta a internet. Um espetáculo que fala sobre o movimento do mangue, mas que anda para frente, fazendo menção ao homem-caranguejo que não está mais no mesmo lugar.
No alto do Morro da Conceição, o olhar dela oferece proteção aos recifenses. Com seu manto azul, a santa que dá nome a comunidade é uma das divinas formas de Maria de Nazaré. Com sua presença refletida na estatueta vinda da França, a cada dia 08 do mês de dezembro, em sua volta se juntam milhares de pessoas, que trajando roupas, levando consigo seus sonhos ou voltando para agradecer dizem ser a Nossa Senhora da Conceição o ponto alto de sua fé.
A Santa que abençoa de um dos pontos mais altos do Recife reforça na população a fé e a conexão com o sagrado. E foi esta celebração que o Grupo Experimental usou como mote de sua pesquisa. Com isso os bailarinos, que também são criadores, foram vivenciar experiências durante a festa, encontrando nas lendas que envolvem o sincretismo religioso, as movimentações, sons e imagens do lugar um verdadeiro achado para compor o que se tornou um dos mais emocionantes espetáculos do grupo: “Conceição”.
Pintar o cabelo e se valorizar, ver no outro o reflexo de uma vida em constante metamorfose é parte do espirito de quem vive e respira o brega na periferia de Recife. Enquanto a música fala das paixões, das tragédias afetivas, do batom forte, do homem que pertence à outra, a vida vai se desenhando em meio as catástrofes e sucessos da vida comum, quase que invisível dos personagens. Em Breguetu o público vive, encena, sente. Em Breguetu o público vai das ruas aos bares, perpassando pela intimidade, pelo mito e pelo simbólico, onde a música serve como pano de fundo, mas onde o ponto alto da cena é a vida, nua, crua, exagerada, sofrida, sobreposta por problemas e fatos que se entrelaçam entre a felicidade e o desespero. Com toda a poesia que lhe cabe, com o jeito, o som, a cara e o corpo do recifense, Breguetu é um convite para conhecer o outro lado do espelho, onde a vida é mais intensa, eletrizante.
No século passado, onde o cinema teve sua grande adesão no mundo, ver a vida passando na tela, recheada por personagens icônicos, divas que fizeram a humanidade se render à sua beleza e talento, nos trouxeram a tecnologia como efeito da modernidade e de uma ciência avançada. Por trás da tela de projeção a vida se revela em quadros, com cenas dançadas, trazendo a dança para este novo lugar, onde tecnologia, ficção e realidade agora podem co-existir. Em Lúmen o público é provocado a reagir, a sentir e pressentir. Um roteiro transvestido de corpo, hora no chão, hora no ar. Não há senão uma ordem: a inovação e a arte foram feitas uma para a outra. Nesta imersão no mundo do cinema, a obra passeia pela própria história das telas, enquanto a plateia é colocada no centro desta “projeção”, deste “roteiro”, ao identificar-se com as histórias narradas através de Lúmen e com a trilha sonora que por si só já é um espetáculo. Uma criação montada com o apoio do Prêmio EnCena Brasil, do Ministério da Cultura
e do Governo Federal.
Uma obra que conta com imagens fortes, icônicas, chocantes: pessoas que nadam no asfalto do morro, ou que “caminham de costas” como forma de gratidão por uma graça alcançada. Uma obra que convida o público a conhecer
da relação afetiva com este lugar que nos acolhe e serve como espaço vivo e mutável. Em Pontilhados nossas almas se transfiguram em memórias e trajetos onde o humano se torna
o verdadeiro cenário e trajeto.
e viver em cena um trecho da vida, da fé e do contexto social, religioso do Recife como um efeito das relações históricas, culturais e sensoriais da tradicional festa
do Morro da Conceição.

